A Nossa Herança
CORES, TEXTURAS, FORMAS E DETALHES
O conjunto de casas que compõe o hotel reinterpretam a arquitetura tradicional da região dos séculos XIX e XX.
Até ao início do século XX, esta era uma região muito pobre que vivia da pastorícia e de uma agricultura de subsistência, onde cada um construía a sua própria habitação com ajuda de familiares e vizinhos, baseados nos conhecimentos transmitidos pelos seus ancestrais.
Numa época em que não existiam meios de comunicação e transporte, as populações sobreviviam com os recursos que a própria natureza lhes fornecia.
As paredes eram construídas com pedras irregulares colhidas na região e ligadas por argamassa, feita de areia vermelha (terra rossa) e de cal de pedra cozida que endurecia com o tempo, matérias que se colhiam e produziam na região e que durante muito tempo coloriram as paredes das habitações.
As técnicas de construção e sustentação das portas, janelas e esquinas das paredes tiveram como base técnicas muito antigas que se encontram com facilidade em locais que serviram de fixação ou passagem aos Romanos.
As chaminés cilíndricas, à semelhança das chaminés algarvias, são vestígios ainda presentes da passagem da cultura árabe por esta região.
Casas com "alpendre de lajes"
Sendo as casas de tipologia mais antiga, não existe qualquer documentação visual sobre estas.
Eram as casas mais modestas, feitas com alvenaria de pedra e argamassa ordinária, compostas apenas por uma cozinha à entrada e um ou dois quartos separados por tabiques, feitos com tábuas toscas.
Os telhados eram feitos de telha de canudo, sem forro, o que as tornava quentes no Verão e muito frias no Inverno. Geralmente sem chaminé, a libertação dos fumos era feita através dos intervalos das telhas, sendo estas mais separadas nos dias mais soalheiros.
As portas e postigos eram muito pequenos, protegidos da chuva e do sol por pequenos alpendres feitos de lajes, arrancadas perto de Aljustrel, por ser uma pedra mais forte e dura, que se extraía com maior facilidade da rocha, diferente da pedra macia do Moimento (localidade onde nos encontramos).
Este tipo de casas tinha duas formas de alpendre:
- As mais antigas caracterizam-se por tetos baixos, alpendres mais modestos e de maior simplicidade na construção: duas lajes de grandes dimensões colocadas em posição angular. Estes alpendres de altura reduzida obrigavam a que os seus habitantes se baixassem para entrar e sair de casa.
- O outro tipo de alpendre era um pouco mais alto, formado por várias lajes embicadas que assentavam em colunas talhadas na mesma pedra, que davam maior largura à passagem, no entanto, menos abrigadas das chuvas fortes.
Casas com "Alpendre de Pial"
Pial é a designação para o termo «Poial» que significa depor ou colocar. O nome de «alpendre de pial» resulta da analogia feita com as paredes exteriores do alpendre que se assemelham aos bancos das janelas das cisternas de cobertura abobadada onde se poisavam os cântaros de água.
Nestas casas, o alpendre não fica fora de casa, mas faz parte dela, debaixo do mesmo telhado.
A entrada tinha a largura duma porta e, à altura da cintura de uma pessoa, abria-se para os dois lados, desenhando a configuração de um «T» na zona de sombra.
Este tipo de construção foi motivada pela proteção contra as intempéries, pela entrada de mais luz nos dias soalheiros de Inverno, e pela frescura que conservava em Verões quentes.
É das tipologias mais antigas que resistem até hoje, podendo ainda observar-se alguns exemplares bem conservados na região.
EXPERIÊNCIAS, CULTURA E TRADIÇÃO
CISTERNA
A cisterna era um elemento essencial à sobrevivência da população num ambiente agreste onde os solos não permitem a retenção de água, servindo como sistema de captação, armazenagem e conservação da água das chuvas. Por esta razão, era a construção em que aplicavam maior preciosismo.
Nesta região são normalmente construídas nas proximidades das habitações para consumo doméstico, cuja cobertura podia assumir várias formas, embora sempre elevada para criar uma caixa de ar que permitia manter a água em boas condições durante todo o ano. Era também usual colocarem peixes no seu interior para completar o sistema de higiene e limpeza da água. Apesar de não existir nenhum facto que o comprove, os antepassados contavam que este hábito surgiu por altura da reconquista para saber se a água teria sido envenenada.
A forma mais comum, que serviu como base de inspiração para a ermida, é conhecida como cisterna de cobertura abobadada, confundindo-se com pequenas casas de habitação, em que a abertura está ligeiramente abrigada por uma alpendrada estreita, assemelhando-se ao «alpendre de pial».
Neste tipo de cisterna, existem dois bancos frente a frente cuja dimensão foi pensada para apoio na recolha de água, onde colocavam os cântaros, servindo também para descanso e aproveitar para namorar as raparigas quando iam sozinhas buscar água.
As duas pirâmides ao cimo da entrada da Mãe Casa ilustram outro tipo de cisterna – a cisterna de cobertura piramidal -, rara pela sua complexa construção, existindo apenas um exemplar nos dias de hoje.
A cisterna centenária sem cobertura, que se encontra em frente à esplanada, foi construída como apoio aos campos agrícolas, servindo de ponto de paragem obrigatória para os pastores que aí paravam para merendar e dar de beber aos seus rebanhos. Ainda nos dias de hoje existem relatos de quem por ali passava constantemente e matava a sede com a água desta cisterna, filtrada por ramos de alecrim.
A EIRA
Recuando há tempos ainda não muito longínquos, havia no ar o cheiro a milho, trigo e outros cereais que eram transportados dos campos da lavoura, em cima dos carros de bois ou em carroças puxadas por burros ou mulas.
O destino eram as Eiras, onde estes cereais eram cuidadosamente colocados para secarem e posteriormente serem malhados, escolhidos e depois separados. Estas eiras, além de serem locais de intenso labor, eram também - e não menos importante - um local de encontro de vizinhos, familiares e até, por vezes, de outras gentes de terras mais distantes, fazendo das eiras importantes marcos da vida destas aldeias.
A eira do Manuel Jacinto, habilidoso canteiro, construída pelas mãos do próprio na década de 30 do século XX, serve hoje de recordação desses tempos, destas memórias e dos convívios passados. O mote é dado para que quem nela "se encontre", consiga viver e/ou reviver estas emoções tão genuínas e singelas.
A GRUTA
No nosso jardim podemos encontrar uma pequena gruta modelada pelo tempo.
Estas pequenas grutas, resultantes das características geomorfológicas da região, serviam de abrigo aos pastores em tempo de maiores chuvas, ou para se refrescarem nos meses de maior calor.
Inseridos numa região dominada pelo ambiente próprio da presença dominante do calcário, pode-se observar por toda a região outros surpreendentes fenómenos geológicos como algares, campos de lapiás, poljes e dolinas.
FORNO A LENHA
O forno a lenha era essencial nos anexos da casa, pois era aí que se cozia o pão, peça fundamental na alimentação, a par do vinho e do azeite.
O pão acompanhava com tudo e servia de refeição acompanhado apenas de azeitonas, queijo, toucinho, chouriço ou apenas molhado em azeite. Muitas das vezes comia-se mesmo sem acompanhamento, dependendo da disponibilidade da despensa.
No nosso espaço poderá deliciar-se com algumas iguarias feitas no forno a lenha, preparadas segundo as receitas de antigamente.
O CURRAL
A ovelha é um animal muito presente na história e cultura da região no séc. XIX, em que a pastorícia foi um importante sustento das famílias. A partir do séc. XX, esta atividade passou quase em exclusividade para as crianças entre os 7 e os 13 anos, uma vez que os adultos se ocupavam mais na agricultura.
O leite de cabra e ovelha, pouco apreciado, era utilizado na sua maioria para fazer queijos, e a sua lã para fazer as mantas e vestuário que cobria os elementos da família, sendo o seu excedente vendido a cardadores da zona de Minde e das Serras de Aire e Santo António.
Hoje em dia, a pastorícia está quase extinta enquanto atividade económica na região no entanto, nasceu o projeto «Habitats Conservation», que juntou a autarquia de Fátima e de Pedrogão (Torres Novas) na criação de um rebanho de 400 cabeças de gado que todos os dias percorrem a serra com a missão de a defender dos incêndios e assim preservar as espécies de plantas em vias de extinção.
Casas dos Anos 30/40 do Século XX
Com o desenvolvimento tecnológico, as casas passam a ter um aspeto menos rude: no interior, as paredes caiadas de branco aumentam a luminosidade e a salubridade; no exterior, refletem o calor do Verão, e escorrem as águas das chuvas e o orvalho nas noites frias e húmidas.
As janelas e as portas passam a ter molduras bem trabalhadas, sem necessidade dos reforços de pedra, o que indica um maior cuidado na escolha e colocação dos materiais de construção.
Com telhados de duas águas, mantêm a tradicional telha de canudo, no entanto o alpendre deixa de ser essencial. Quando existente, era assente em colunas de pedra do Moimento, mais elaboradas e melhor trabalhadas.
Na ausência de alpendre, as paredes das casas tornam-se mais coloridas: as paredes caiadas passam a ter uma faixa de cor azul ou amarela que esconde a sujidade levantada do chão.